Chamada de comunicações

A ética da comunicação na viragem da inteligência artificial é o tema da  VIII Media Ethics Conference, que decorrerá nos dias 9, 10, 11 e 12 de julho de 2024, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Os dois primeiros dias do programa serão destinados a comunicações online e os dois últimos às comunicações e conferências presenciais.

A Media Ethics Conference é um projeto da Red Intracom, que reúne investigadores da ética da comunicação na Europa e América Latina.  A organização da VIII Media Ethics Conference resulta de uma parceria das universidades portuguesas de Coimbra e do Minho (Braga), da Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil, e da Universidade de Sevilha, em Espanha.

 Com o tema do congresso pretende-se acolher reflexões sobre a crise de mediação, a crise dos média e a crise da democracia, num momento paradoxal em que dispomos da possibilidade de uma comunicação global e de modos de participação cívica  sem precedentes. As mais variadas derivas comunicativas e políticas no espaço público contemporâneo dão expressão a essa crise: bolhas de informação, desinformação, negacionismos, discurso de ódio, populismos e novos autoritarismos.

Sendo os processos de comunicação essenciais para as democracias, urge pensar uma ética comunicativa que dê resposta às mudanças do ecossistema mediático e da inteligência artificial.  Que ética comunicativa para os media, o jornalismo e a informação num contexto social cada vez tecnologicamente mediado, datificado e, simultaneamente,  diverso, plural, globalizado e fragmentado? 

As transformações do ecossistema mediático, associadas a novas formas de organização do trabalho no contexto do denominado novo capitalismo (Sennett, 2000; 2006) e das sociedades líquidas (Bauman 2005)   têm impactos no ethos socioprofissional dos trabalhadores da comunicação (Deuze 2005; Deuze & Witschge, 2017) e na construção de uma nova cidadania, composta por sujeitos com hábitos de comunicação e de sistemas informação distintos entre si.

No caso do jornalismo, as transformações em curso têm feito apelo a novos conceitos como transparência (Fengler & Speck, 2019; Heim & Craft,  2020.) e empenhamento (Ward, 2019a; 2019b). Nos seus estudos sobre a deontologia, Hugo Aznar fala mesmo de Códigos Deontológicos de segunda geração.

Nestes contextos, podemos pensar uma nova ética para uma nova cultura profissional e cívica em emergência? E quais os fundamentos normativos dessa ética perante um contexto socioprofissional marcado por novos modelos de negócio que promovem a flexibilidade, a precarização e a multifuncionalidade? Parafraseando Leonardo Boff, teremos de adotar uma nova ótica, para pensar uma nova ética da comunicação, dos media, do jornalismo e da informação?

Na linha desta problematização, os desafios do atual ecossistema mediático em mudança afiguram-se como um vasto campo de abordagens, a partir do qual sugerimos os seguintes eixos temáticos:

Eixos temáticos

  • Questões éticas da Inteligência artificial e plataformas digitais.
  • IA generativa e impactos éticos.
  • Novos temas e novos conceitos para a ética na comunicação, no jornalismo, nos media e na informação.
  • Os efeitos dos novos processos comunicativos na construção da identidade.
  • Novos desafios da ética da comunicação: jornalismo, novos media e transformação digital.
  • Novos nichos, novos modelos e condições de trabalho em comunicação: dilemas éticos.
  • Jornalismo e engajamento em causas político-sociais: mudanças climáticas, gênero, direitos das minorias, Direitos Humanos…
  • Pluralismo na comunicação e participação cívica.
  • Ética da comunicação e interculturalidade.
  • Análises de conteúdo dos códigos deontológicos da comunicação e outros instrumentos de autorregulação.
  • Outros temas relacionados com a análise crítica da comunicação.

As propostas de comunicação podem ser redigidas em português, espanhol, e inglês, as línguas oficiais do Congresso.

Referências bibliográficas

Bauman, Z. (2005). Ética posmoderna. Siglo.

Deuze, M. (2005). What is journalism? Professional identity and ideology of journalists reconsidered. Journalism 6 (4), 442-464. 

Deuze, M., & Witschge, T. (2017). Beyond journalism: Theorizing the transformation of journalism. Journalism, 19(2), 165–181.

Fengler, S., & Speck, D. (2019). Journalism and transparency: a mass communications perspective. In S. Berger & D. Owetschkin (Ed.), Contested transparencies, social movements and the public sphere: multidisciplinary perspectives (pp. 119–149). Springer International Publishing. doi:10.1007/978-3-030-23949-7_6

Heim, K., & Craft, S. (2020). Transparency in journalism: meanings, merits, and risks. InL. Wilkins & C. G. Christians (Ed.), The Routledge handbook of mass media ethics. Routledge. doi:10.4324/9781315545929-21

Sennett, R. (2000). La corrosión del carácter – Las consecuencias personales del trabajo en el nuevo capitalismo. Anagrama.

Sennett, R. (2006). La cultura del nuevo capitalismo.  Anagrama.

Ward, S. J. A (2019a). Ethical journalism in a populist age – The democratically engaged journalist.  London Rowman & Littlefield.

Ward, S. J. A. (2019b). Objectively engaged journalism – An ethic. McGill-Queen’s: University Press.